O mercado financeiro brasileiro inicia 2025 de forma cautelosa, refletindo um cenário ainda marcado por incertezas econômicas que se estendem desde o ano anterior. O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, sai pela primeira vez neste ano a 0,13%, fechando o dia aos 120.125,39 pontos. Enquanto isso, o dólar recuperou 0,29%, cotado a R$ 6,1625, num movimento que destacou o clima de baixa liquidez e o impacto de influências externas, como a desaceleração observada em Wall Street.
No âmbito interno, as preocupações com as contas públicas e a trajetória da divisão nacional continuam apesar do sentimento dos investidores. A nomeação de Gabriel Galípolo como presidente do Banco Central do Brasil tem sido acompanhada de atenção ao mercado, que observa com clareza suas declarações e ações. Galípolo reafirmou seu compromisso com a política monetária atual, enfatizando que qualquer alteração nos sinais emitidos pelo Banco Central seguirá padrões rigorosos, ou que mantém expectativas alinhadas, mas também há incertezas quanto às alíquotas futuras dos impostos.
À medida que a sessão avança, os traders começarão a esclarecer as possíveis decisões do Banco Central para a sua próxima reunião. Há probabilidade de 28% de a autoridade monetária optar por um aumento de 1 ponto percentual no imposto legal básico, enquanto a maioria, 72%, opta por um ajuste mais agressivo, de 1,25 ponto percentual. Este cenário segue uma tendência observada nas semanas anteriores, quando as expectativas oscilavam entre aumentos de 1,25 e 1,5 pontos percentuais, reforçando a percepção de que novos ajustes podem ser necessários para conter as pressões inflacionárias.
Na B3, o desempenho das ações reflete um mix de fatores internos e externos, com alguns ativos registrando movimentos expressivos. Aeris (AERI3), por exemplo, tem alta impressionante de mais de 32%, impulsionada por especulações sobre uma possível venda de participação para a chinesa Sinoma Blade, que deve divulgar novidades no dia 4 de janeiro. Outras empresas também se destacam positivamente sem perguntar. A Gol (GOLL4) apresenta seu lucro considerado após finalizada a liquidação dos ativos, enquanto a CVC (CVCB3) lidera as valorizações dentro do índice Ibovespa, beneficiando-se de um alívio proporcionado pela flexibilização nas alíquotas dos impostos.
Por outro lado, algumas pessoas enfrentarão pressão negativa. A Eneva (ENEV3) foi impactada pelas novas regulamentações do Ministério de Minas e Energia, relacionadas aos limites de capacidade das usinas térmicas e hidrelétricas. Embora a Vale (VALE3) tenha registrado perdas devido à fragilidade dos preços da mineração ferroviária, essas perdas têm sido parcialmente compensadas pelas notícias sobre prorrogações de concessões ferroviárias, negociadas entre a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e o governo federal.
A Petrobras (PETR4; PETR3), por sua vez, fechou o dia com alta superior a 2%, impulsionada pelas condições favoráveis do mercado de petróleo e pela confirmação de acordo estratégico com a Prio (PRIO3) para utilização da infraestrutura de gás natural . Este movimento positivo destaca o papel do Estado como ponto de equilíbrio num ambiente de incertezas económicas.
Internacionalmente, o mercado norte-americano também influencia o desempenho local. Os dados económicos divulgados nos Estados Unidos mostram que recebemos pedidos iniciais de auxílio-desemprego, que chegaram a 9 mil na última semana de dezembro, totalizando 211 mil pedidos, superando as expectativas do mercado, que esperava 222 mil pedidos. Estes números reforçam a percepção de resiliência no mercado de trabalho americano, mesmo num contexto de padrões elevados.
No entanto, os investidores continuam atentos às políticas económicas da administração Trump, especialmente dadas as tensões comerciais sobre a possibilidade de novas tarifas. Estas preocupações são agravadas pela posição mais conservadora da Reserva Federal, que indicou que promete que os Estados Unidos devem permanecer elevados durante um período prolongado. Durante a sua última reunião, a instituição anterior fez apenas cortes modestos de 0,25 pontos percentuais todos os anos até 2025, o que limita as expectativas de estímulos adicionais para a economia americana.
O clima de incerteza global e os desafios domésticos continuam a moldar o mercado brasileiro neste início de ano. A capacidade do governo e do Banco Central em administrar as expectativas econômicas será decisiva na definição da trajetória do Ibovespa e do dólar nos próximos meses. O desempenho do mercado em 2025 continuará a depender não só das políticas locais, mas também de factores internacionais, como os ajustamentos à política monetária dos Estados Unidos e o impacto de possíveis perturbações nas tensões comerciais globais.
Ao olharmos para o cenário interno e externo, os investidores aguardam os próximos passos do Banco Central e do governo brasileiro, à medida que ajustam suas estratégias para navegar em um ambiente que continua apresentando desafios, mas também oportunidades.