Decisão do TRF-1 suspende compra de termelétricas da Eletrobras para a Âmbar Energia após morte do “rei do gás”

Decisão do TRF-1 suspende compra de termelétricas da Eletrobras para a Âmbar Energia após morte do “rei do gás”

Nas últimas horas do processo judicial do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), o desembargador Ney Bello concede decisão liminar que suspende a operação de aquisição de 13 termelétricas da Eletrobras para a Âmbar Energia, empresa do Grupo J&F, controlado pelos irmãos Joesley e Wesley Batista. A decisão foi proferida às 22h59 deste domingo, encerrando o recesso forense com vício que afeta temporariamente o negócio bilionário.

A operação, avaliada em R$ 4,7 bilhões, antecede a transferência do controle de 13 usinas de gás, sendo 12 delas localizadas fora do Amazonas. Essa transação dependeu, entre outros pontos, da conversão de dois contratos de compra e venda de energia da Eletrobras em Contratos de Energia de Reserva (CER), etapa central para a viabilização do acordo. Segundo a decisão de Ney Bello, essa conversa só poderá ocorrer mediante aprovação prévia da Companhia Amazonas de Gás (Cigás), principal distribuidora de gás canalizado da região.

Intervenção judicial com participação de Michel Temer

Por fim, estamos falando de um movimento atual da Cigás, parcialmente controlada pelo governo do Amazonas, e da Termogás, empresa do empresário Carlos Suarez, conhecido como o “rei do gás”. Suarez, que teve grande influência no setor de infraestrutura e política — sendo um dos fundadores da empresa OEA, fortemente impactada pela Operação Lava Jato —, continua exercendo influência em questões relacionadas ao mercado de gás natural.

A petição que resultou no deferimento da decisão prejudicial foi feita pelo ex-presidente Michel Temer, que atualmente não atua como advogado de Cigas. Em documento apresentado no dia 3 de janeiro, Temer argumentou que a conversão de dois contratos para RCE poderia trazer graves consequências financeiras e institucionais.

“A conversão de dois contratos acarretará um prejuízo grave e irreversível, não só no plano financeiro, mas também no plano institucional”, afirmou Temer na petição.

Também destaca o risco de a distribuidora enfrentar inadequação no fornecimento de gás, além de possíveis impactos na continuidade dos serviços canalizados de distribuição de gás na região.

Reversão de decisão anterior

Uma decisão liminar concedida por Ney Bello reverte decisão anterior de Juíza Jaiza Fraxe, da 1ª Vara Federal do Amazonas. A Fraxe havia determinado a exclusão da Cigás do processo judicial, o que na prática envolve a posição da distribuidora nas negociações de dois contratos.

Com esta nova decisão, a Cigás recupera protagonismo e ganha poder de veto na conversão de dois contratos, dificultando a concretização do negócio entre Âmbar Energia e Eletrobras.

Próximos passos após a conclusão da planta judicial

Como o julgamento de Ney Bello criou um obstáculo significativo à operação, a palavra final sobre o mérito da questão cabe agora à presidência do TRF-1. Em decorrência da planta judicial, a decisão foi encaminhada à presidência do tribunal, a quem caberá analisar o caso e deliberar sobre eventuais incidentes processuais relacionados ao julgamento.

Este tipo de disputa judicial envolvendo grandes transações no setor energético não é comum no Brasil, onde interesses econômicos e políticos frequentemente se entrelaçam. A participação de figuras como Carlos Suarez e Michel Temer reforça o peso institucional e financeiro da busca, além de destacar a complexidade do mercado de gás natural e energia no país.

Impactos no mercado de gás e energia

A operação suspensa visa fortalecer a posição da Âmbar Energia no mercado de geração de energia a gás, segmento estratégico para o grupo J&F. As usinas envolvidas no negócio, localizadas em sua maioria na Amazônia, são cruciais para o fornecimento de energia em uma região que depende muito do seu tipo de fonte.

No entanto, a disputa judicial levanta questões sobre a viabilidade económica e a sustentabilidade do modelo de negócio proposto. A Cigás, que desempenha papel central na distribuição de gás canalizado na Amazônia, argumenta que a operação pode comprometer a segurança financeira e operacional do setor.

Além disso, discutir o debate sobre o papel das distribuidoras regionais de gás no contexto de grandes transações envolvendo ativos estratégicos. A exigência de anúncio prévio por parte da Cigás reflete a importância de considerar os impactos locais nas negociações que, em última análise, afetam diretamente a população e a economia regional.

O papel de Carlos Suarez e sua influência no Congresso

Carlos Suarez, apelidado de “rei do gás”, é um nome notável nos bastidores desta disputa. Sua formação no setor de infraestrutura e sua proximidade com figuras influentes do Congresso Nacional lhe conferem um papel estratégico nas questões relacionadas ao mercado de gás natural no Brasil.

Sua empresa, a Termogás, é uma das partes interessadas e sua atitude tem sido central para questionar os termos operacionais entre Eletrobras e Âmbar Energia. A influência política de Suarez, aliada à sua experiência neste setor, fazem dele uma pessoa chave neste cenário.

Contexto político e económico

A suspensão das operações ocorre em um momento delicado para o setor energético no Brasil, que enfrenta desafios como a transição para fontes mais limpas e os elevados custos associados à produção e distribuição de energia. A disputa judicial reflecte as tensões entre diferentes intervenientes no mercado, que procuram consolidar posições estratégicas ao mesmo tempo que lidam com regulamentações complexas e interesses económicos conflituantes.

Além disso, a presença de Michel Temer como advogado reforça o peso político da questão. O ex-presidente, que tem histórico de atuação em casos de alta relevância institucional, traça para o processo uma dimensão adicional de visibilidade e influência.

A decisão de Ney Bello de suspender a operação multibilionária entre Eletrobras e Âmbar Energia abre um novo capítulo numa disputa que combina interesses econômicos, políticos e regionais. À medida que o caso avança para análise da presidência do TRF-1, as próximas divulgações prometem ser acompanhadas de perto por todos os envolvidos, desde grandes grupos empresariais até representantes de governos estaduais e regionais.

Desvendar esta disputa terá implicações significativas não só para o mercado energético, mas também para a forma como as transacções energéticas serão tratadas no futuro, especialmente em sectores estratégicos como o gás natural.

By Pedro A. Silva